terça-feira, 26 de agosto de 2025

A SENHORA PRESBITERIANA QUE DESPERTOU UMA GUERRA COM UM BANCO

Jenny Geddes (1600–1660) foi uma simples comerciante escocesa de Edimburgo, conhecida por vender frutas e vegetais em sua barraca ao lado da Tron Kirk, uma igreja paroquial de sua cidade. Apesar de ser uma cidadã comum, sua vida entrou para a história como protagonista de um dos eventos mais marcantes do século XVII, quando a fé reformada na Escócia foi colocada à prova diante das imposições da coroa inglesa.

Desde o início do século, os monarcas ingleses tentavam impor à Escócia o modelo episcopal de governo da igreja, em contraste com o sistema presbiteriano estabelecido após a Reforma conduzida por John Knox, discípulo de João Calvino. A Igreja da Escócia havia sido organizada em torno de presbíteros e sínodos, mas a união das coroas sob James VI da Escócia, que se tornou James I da Inglaterra, trouxe também a tentativa de uniformizar a religião sob sua autoridade. Para os calvinistas escoceses, isso representava uma ameaça, uma volta ao papismo e uma afronta à pureza da fé reformada.

Com a ascensão de Charles I em 1625, a pressão aumentou ainda mais. Aliado ao arcebispo William Laud, o rei tentou erradicar o presbiterianismo e impor um modelo arminiano e episcopal. A situação atingiu seu ápice em 1637, quando um novo Livro de Oração Comum foi publicado em Edimburgo, destinado a ser utilizado oficialmente na Catedral de Santo Egídio.

No domingo, 23 de julho daquele ano, Jenny Geddes entrou na história. Sentada em seu banco dobrável, ouviu indignada a leitura do novo livro litúrgico. Em um gesto inesperado, tomado por indignação piedosa, atirou seu assento contra o Deão James Hannay, exclamando: “Não diga missa em meus ouvidos!”. Esse ato simbólico inflamou a multidão presente, que reagiu jogando bancos, pedras e até Bíblias contra os líderes da cerimônia. O tumulto se espalhou pelas ruas e desencadeou uma onda de revoltas que não pôde mais ser contida.

A repressão do governo apenas acendeu ainda mais a resistência. Em 1638, os presbiterianos escoceses firmaram a National Covenant (Aliança Nacional), comprometendo-se a extirpar o papismo da Igreja e a manter firme a fé reformada. A partir daí, iniciou-se a Guerra dos Bispos (1639–1640), que logo se conectaria à Guerra Civil Inglesa (1642–1651), culminando com a queda e decapitação de Charles I e a vitória dos puritanos.

Jenny Geddes, uma mulher simples e sem qualquer posição de destaque social, foi o estopim de um movimento que moldaria não apenas a história da Escócia, mas também da Inglaterra e, em larga medida, do mundo moderno. Sua coragem tornou-se símbolo da resistência presbiteriana e da fidelidade à fé bíblica diante de falsas doutrinas.

Hoje, Geddes é lembrada como heroína escocesa e presbiteriana. Seu gesto não foi apenas de indignação política, mas um testemunho de zelo pela pureza do evangelho. Ela nos recorda que Deus pode usar até mesmo os mais humildes para defender sua verdade e acender chamas de transformação que atravessam séculos.


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