Estamos diante de um grande apologista cristão. Talvez um dos maiores quiçá do nipe do grande Doutor Angélico. Antes de me criticar e chamar-me de inconsequente, que seria o menor dos insultos peço ao querido leitor que reflita. William Lane Craig trouxe Deus de volta para a Universidade, local cada vez mais ateísta ou/e de influência de esquerda. Você acha isso é qualquer coisa, caro leitor?
O foco de Craig é nos ensinar a explicar a razão de nossa fé com mansidão e amor (1 Pe 3:15), não esperando que alguém se converta com isso, pois é trabalho do Espirito Santo, mas fazermos de nós pessoas que não temem argumentar com ateus ou agnósticos. E vejo nisso resquícios do Bispo de Hipoma.
Uma pergunta pertinente para todo aquele que se encarrega da atividade reflexiva é: “Por que existe algo ao invés do nada?”. “Jim Holt adverte que essa é uma pergunta tão profunda que só ocorreria a um” exímio metafísico, mas também, é tão simples que só ocorreria a uma criança”.
Levantada a indagação de o “porquê” o universo existir além do nada. E é natural vir à mente a questão da razão do Universo ser como é. Analisando mais profundamente, perguntamos o que existiria se o universo existiria um completo “nada”? Aristóteles talvez tenha respondido poeticamente quando disse que “Nada é aquilo que as rochas sonham”. Amigos, se atentem, nada é mais sublime que o trivial. Você já percebeu o quanto de sapiência é necessário para enxergar a simplicidade das coisas?
A questão ainda permanece, do porquê o universo existir ao invés do nada. O universo possui uma causa? E é por responder essa questão por meio de uma concepção ontológica que “o argumento cosmológico ” de William Lane Craig se faz grande. Para melhor compreender o argumento, desenvolveram-se conceitos e teorias antecessores a ele, como o Motor Imóvel de Aristóteles, e a terceira via de Tomás de Aquino. Fundamentado no Princípio da Causalidade, investigou-se a validade das premissas, com base na lógica aristotélica e em evidências científicas, para determinar se afinal, a conclusão é válida ou não.
O argumento "cosmológico" é fundamentado no Princípio da Causalidade, que diz que a todo efeito é atribuído a uma causa. Este princípio é chamado de Lei da Causalidade e fundamenta todo fenômeno na análise da realidade. Além de encontrar pensamento racional no próprio processo, pois, quando formulamos um pensamento argumentativo, estamos reunindo nossos pensamentos (as causas) para que cheguemos às conclusões, que são os efeitos. Dessa forma, a própria negação desse princípio já pressupõe a sua validade.
A Causalidade aparece nitidamente em Aristóteles. Ele dizia que “para tratar da substância móvel, é necessário, porém, referir-se a fala da substância imóvel, já que, para se chegar à substância móvel tem de haver a imóvel, eterna e incorruptível. Essa substância imóvel é o Primeiro Motor”. Esse Motor Imóvel é o que move sem ser movido, é essência pura e ato puro. É necessário, eterno e incorruptível.
Influenciado pelas ideias de Aristóteles, Tomás de Aquino formulou as Cinco Vias para a existência de Deus, e a terceira é a que corresponde ao princípio da causalidade e ao argumento cosmológico da Suma Teológica.
Com isso, vemos que o Doutor Angélico faz uma distinção entre seres contingentes e seres necessários. Contingentes são aqueles seres enquanto potência, ou seja, que podem ser ou deixar de ser. Eles não existem necessariamente, pois não possuem em si mesmos a razão de sua existência. Já os seres necessários estão sempre em ato (ato puro), existem desde sempre e não podem deixar de ser. Para Aquino, qualquer substância finita (contingente) é mantida em existência imediatamente pelo Fundamento do Ser (Ser Necessário).
Então, o Argumento Cosmológico foi reformulado pelo filósofo William Lane Craig, que devido suas raízes históricas na teologia islâmica medieval, batizou o argumento de “argumento cosmológico kalam”. Al-gazali, teólogo mulçumano da Pérsia, dizia que “O universo deve ter um começo e, uma vez que nada começa a existir sem uma causa, deve haver um criador transcendente do universo”. O argumento de Gazali é colocado de forma muito simples: “Todo ser que começa tem uma causa para seu começo; ora, o mundo é um ser que começa; logo, ele possui uma causa para seu começo” , que pode ser colocado na forma de duas premissas e uma conclusão:
P1: Tudo o que teve um começo teve uma causa.
P2: O Universo teve um começo.
C: Portanto, o Universo teve uma causa.
Para que um argumento seja verdadeiro, ele precisa ser logicamente válido, e suas premissas precisam ser verdadeiras. Se as premissas são válidas, a conclusão também é válida. Por isso, é essencial analisar as premissas.
A primeira premissa diz que “Tudo o que teve um começo teve uma causa”, o que é uma expressão do Princípio ou Lei da causalidade já exposto anteriormente. Como foi dito, a própria negação desse princípio é uma confirmação de sua validade. Então, tudo o que venha a existir possui uma causa, já que algo não pode vir do nada; pois, toda potência depende de algo em ato para existir, e como só existe potência em algo que existe, não há potência no nada, porque o nada é o não-ser.
Partindo para a segunda premissa, que coloca que “O universo teve um começo”, se faz necessário o apoio de evidências científicas e matemáticas para mostrar sua veracidade. Primeiramente, recorrendo a lógica, se o universo é eterno isso significa que o número de eventos passados na história do universo também é eterno. Mas os matemáticos reconhecem que a existência de um número infinito de coisas leva a autocontradições. David Hilbert, um grande matemático do século XX diz que “O infinito está longe de ser encontrado na realidade”. Portanto, o infinito expressa apenas uma ideia e constitui base para um pensamento irracional.
E como eventos passados são reais, logo o número de eventos deve ser finito:
1. Um infinito real não pode existir.
2. Um regresso temporal infinito de eventos é um infinito real.
3. Logo, um regresso temporal infinito de eventos não pode existir.
Diversas descobertas científicas têm apontado para a mesma questão: o universo não é eterno; o universo teve um início. Os cálculos da teoria da relatividade de Einstein, o Efeito Doppler (expansão), a segunda lei da termodinâmica, e principalmente o Big Bang, apontam para um início do universo. É confirmado cientificamente que o universo tem 13,8 bilhões de anos, e se ele tem uma data de vida, então ele logicamente não pode ser eterno, pois, teve um início e terá um fim.
Por fim, é interessante observar que, de uma pergunta tão ampla e abrangente como “Porque algo existe ao invés do nada?”, é possível encontrar uma resposta, que é racionalmente válida, e que pode parecer fechada demais à primeira vista, mas que afinal, abre a possibilidade de se fazer tantas outras perguntas tão abrangentes quanto a inicial que inspirou a essa reflexão, o que acaba por estimular o próprio pensamento filosófico e revelar a essência da filosofia.