"Liberdade levando o povo" por Eugène Delacroix |
A Revolução Francesa é claramente um dos eventos centrais da Civilização Ocidental - um período da história cujos personagens e eventos sempre me fascinaram. Em comparação, a muito mais moderada Revolução Americana foi muito menos influente no mundo de então - embora tenha sido mais bem sucedida e menos sangrenta. Posso dizer que a Revolução Americana foi mais bem sucedida porque foi mais moderada e menos assassina que a Revolução Francesa.
Mas ironicamente, a Revolução Francesa foi uma revolução
fracassada: A Liberté, Egalité, e a Fraternité rapidamente
evoluíram para a imponente figura de Robespierre, e para o seu Reino de Terror,
à medida que a revolução ficou fora de controle e começou a matar-se a si
mesma.
Inicialmente, os monarquistas foram decapitados, a seguir os Girondinos
moderados, e por essa altura a violência e a suspeita estavam totalmente fora
de controle à medida que a revolução se devorava a ela mesma. Na minha opinião,
depois deles terem começado a decapitar os Girondinos moderados, era uma
questão de tempo até todos acabarem na guilhotina.
Vinte e seis anos depois da "Declaração dos Direitos do Homem" ter
sido escrita, um Bourbon encontrava-se mais uma vez no trono como Rei de França
- isto é que eu tenho em mente quando digo que a Revolução falhou.
Começando em 1793, a França já teve nada menos que 11 constituições
subsequentes; ao mesmo tempo, os Estados Unidos ainda usam a sua primeira
constituição. Isto é o que eu qualifico de moderação e estabilidade política. O
legado destas revoluções é totalmente distinto em estilo, substância e em
consequência.
Durante um voraz e irracional trecho de paranóia revolucionária, 1,376
indivíduos foram guilhotinados em apenas 47 dias. As últimas palavras da
Girondina moderada Mme. Jeanne Roland de la Platiere, antes da
morte na guilhotina, foram:
Ó liberdade! Quanto que eles fizeram pouco de ti!
Na minha opinião, ela colocou as coisas da forma certa. Ou ainda Camille
Desmoulins, a escrever da prisão para a sua esposa:
Eu sonhei com uma república que todo mundo iria adorar. Eu
não podia acreditar que os homens eram tão ferozes e tão injustos.
Os moderados Montesqieu e Lafayette que Robespierre e dos seus radicais colegas. Sem surpresa alguma, eles não
se deram assim tão bem na Revolução Francesa, o que é um exemplo perfeito da
lei de Gresham da moralidade política: o mal expulsa o bem à medida que todos
se tornam corruptos, ao mesmo tempo que a vida política se torna não muito
diferente da guerra Hobbesiana de todos contra todos num "desejo
perpétuo e incansável de poder, que só termina com a morte."
O executor do rei Luís XVI mostra o chefe do rei da França para se abater. O rei era apenas uma das milhares de vítimas de Robespierre e seu "Comitê de Segurança Pública" e "Tribunal Revolucionário" |
Wordsworth veio a sofrer a desilusão dos jovens
revolucionários de todas as eras que descobrem que, ao derramarem um oceano de
sangue, eles causaram com frequência males maiores.
Se a Revolução Francesa foi o fim dos privilégios monárquicos e dos
privilégios aristocráticos, e a emergência dos direitos democráticos
comuns, ela foi também o início do governo totalitário moderno e da execução em
larga-escala dos "inimigos do Povo" por parte de entidades
governamentais impessoais (o "Comité da Segurança Pública" de
Robespierre). Este legado atingiu o seu ponto mais elevado com a trágica
chegada dos Nazis Alemães e dos Comunistas Soviéticos e Chineses durante o
século 20.
De facto, Rousseau foi chamado de o precursor dos pseudo-democratas modernos
tais como Estaline e Hitler, e as suas "democracias do povo". O seu
apelo para que, se for necessário, os "soberanos" forcem os homens a
serem livres no interesse da "Vontade Geral", soa mais como Licurgo de Esparta e
não como o pluralismo de Atenas; o legado de Rousseau é Robespierre bem como os
radicais Jacobinos (do Terror que se seguiu), que o adoraram de modo
apaixonado.
Durante o século 20, a sua influência fez-se sentir através da acção dos
tiranos que iriam fomentar as paixões igualitárias das massas não no
interesse da justiça social mas sim do controle social.
Olhemos para Rousseau como o génio literário que foi e apreciar a sua
contribuição para a história; olhemos para a sua filosofia política com grande
cepticismo.
Será que se pode forçar uma pessoa a ser livre? Será que uma pessoa - ou um
pequeno grupo de pessoas - pode claramente discernir o que é a "Vontade
Geral" que representa todas as pessoas?
Não é isto, na práctica, um apelo à ditadura? Será que podemos ler "O
Contrato Social
Rousseau pressagia a ascenção do movimento Romântico nas artes e causou a sensação
entre os aristocratas de França dos Bourbons. Alegadamente Napoleão disse mais
tarde:
" e encontrar nele algum do espírito de Atenas e da
democracia parlamentar? Eu não consigo. Tudo isto parece-me mais ao estilo de
Esparta bem como ao estilo do igualitarismo austero da sociedade colectivista e
das justificações ideológicas dos regimes terríveis do totalitarismo moderno.
Se não tivesse existido um Rousseau, a Revolução não teria
ocorrido, e sem a Revolução, eu teria sido impossível.
Estaline e Hitler poderiam dizer o mesmo ao reconhecerem a sua dívida pelo
conceito de "o Soberano" a Rousseau e à sua identificação mística com
as pessoas. Duzentos anos mais tarde nós só temos milhões e milhões de
inocentes assassinados em "nome do povo", etc. ad nauseam.
Robespierre olhou para Rousseau como um pai espiritual. Se eu pudesse escolher
o menor de dois males, eu teria escolhido os diplomatas oportunistas tais como
Maurice de Talleyrand de França, Clemens Metternich da Áustria, Czar
Alexandre da Rússia, ou o Lord Castlereagh da Inglaterra e não Napoleão, e a
França Revolucionária, visto que Napoleão foi apenas a semente que iria
florescer no século 20 nas pessoas de ditadores dinâmicos tais como Adolf
Hitler e José Estaline.
"Ninguém pode governar sem culpa," alegou São Justo. Isto
pode ser verdade, mas a violência política é o pior dos males deste século,
repleto de crimes espectaculares, e que eu saiba, Robespierre foi o
primeiro intelectual Europeu a avançar com a ideia absurda de que o terror é a
melhor e a mais eficaz forma de estabelecer a "justiça".
A Revolução Francesa foi a morte merecida do antigo sistema monárquico Europeu.
Infelizmente, em demasiados locais os governos que tomaram o lugar dos regimes
antigos foram tão maus ou piores que aqueles que os haviam precedidos (Desde
Napoleão, a Lenine até aos fascistas).
O caos e a violência que Napoleão ajudou a materializar só nos últimos 50 anos
(esperemos nós) é que foi removida do sistema Europeu. Que nós possamos
aprender com o passado de modo a que não façamos os mesmos erros. Que o século
20 (e o terror Jacobino) seja um aviso! (...)
O que aprendemos com o estudo da Grande Revolução [Francesa]
é que ela foi a fonte de todas as actuais concepções comunistas, anarquistas e
socialistas.
Príncipe Petr Kropotkin - Naturalista Russo, autor e
soldado, escrevendo em 1909 em vésperas da Revolução Bolchevique