terça-feira, 30 de outubro de 2018

BOLSONARO, O ANTIFRÁGIL?




Bolsonaro é verdadeiramente um antifrágil. E antes que alguém pergunte, antifrágil não é nada contra quem é frágil. Antifrágil foi um termo cunhado pelo professor da Universidade de Nova Yorque, Nicolas Taleb em seu livro “Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o Caos”. Pra quem não o conhece, foi ele que previu o colapso financeiro de 2008.


Então você pode estar perguntando o que colapso financeiro, Bolsonaro e esse conceito de antifrágil tem haver uma coisa com a outra? Vou explicar.

Para entender o que é antifrágil, primeiro, é necessário entender o que é ser frágil. Frágil é algo que sai prejudicado, que se rompe ou se deforma quando é submetido à pressão. 

Já o antifrágil se alimenta mais das tentativas de prejudicá-la do que dos esforços para promovê-la. Segundo a teoria de Taleb, muitos destroem a própria reputação apenas tentando defendê-las. 

Quando olhamos o conceito de antifrágil, percebemos certas semelhanças com a trajetória de Bolsonaro à vitória nas eleições presidenciais. 

Até meados de 2013 ele era uma pessoa pouco conhecida. Era taxado de exótico e não figurava entre os grandes da política nacional. Quando mostrou interesse real de concorrer ao cargo máximo da nação, foi taxado de louco, racista, homofóbico, misógino e inviável politicamente.

Todos nós aprendemos desde cedo na vida, que as ideias são antifrágeis e se alimentam de ataques. Quanto mais se proíbe algo, mas cresce o interesse por esse algo proibido. E Bolsonaro foi “o proibido” mesmo antes de sua candidatura.

Taleb fala que realmente o que importa é o esforço que o crítico de alguém ao tentar impedir os outros de conhecerem sobre algo ou alguém, ou, de forma mais genérica na vida, é o esforço de falar mal de alguém que importa, não tanto o que é dito.

E os ataques a Bolsonaro foi algo sem precedentes na política brasileira. Nunca a mídia tradicional bateu tanto em um candidato, e até mesmo antes de ser candidato, a presidente. 

Taleb também fala que “é a sua energia ao atacar ou ao falar mal que, no estilo antifrágil, colocará você no mapa”. Então, a mídia tradicional, a classe “artística”, os intelectuais acadêmicos, ou seja, os opositores de viés de esquerda e progressista colocaram Bolsonaro no cenário nacional.

Somando-se a isso, tem o próprio estilo de fazer política de Bolsonaro. Ele partiu pro “corpo a corpo” tanto literalmente quanto figurativamente. Todos tem em mente a cena do “famoso” debate dele com a deputada Maria do Rosário no salão verde da câmara, quando ela o chamou de estuprador e ele revidou dizendo que não a estupraria. Ali, despontava para o Brasil, um personagem que milhões de brasileiros iria chamar de “mito”.

Taleb fala que não tem como você “controlar” sua reputação; você não conseguirá fazê-lo controlando o fluxo de informações. Em vez disso, concentre-se em alterar sua exposição, por exemplo, colocando-se em uma posição imune aos danos à reputação. Ou, até mesmo, coloque-se em situação de se beneficiar com a antifragilidade das informações. 

E foi o que Bolsonaro fez. Ele aprendeu a rebater as “fake news” sem “markeiteiros” profissionais usados pelos políticos tradicionais. Sua estrutura de marketing foi montada em sua grande maioria nas redes sociais. 

Mas, não exitou em ir a programas de TV e em entrevistas e ser posto em "saia justa" diversas vezes. Qualquer um em tal posição, pensaria em não ir mais em veículos com essa atitude tão hostil.

Políticos são tradicionalmente frágeis devido ao seu ofício depender totalmente de sua reputação. Com poucas exceções, aqueles que se vestem de maneira não convencional são robustos ou, até mesmo, antifrágeis quanto à sua reputação; esses tipos barbeados que se vestem de terno e gravata são frágeis quanto às informações a seu respeito. 

O conceito de político tradicionalmente frágil é jogado fora por Jair Bolsonaro. Nessa corrida eleitoral ele ignorou totalmente sua fragilidade de ofício. A nova roupagem de Bolsonaro transcende a questão da vestimenta. A nova roupagem é um conceito que os analistas políticos tradicionais e a esquerda ainda penam para entender. É também nesse ponto que Bolsonaro se constitui um outsider. Seu comportamento combativo é o avesso do tradicional político, comprovadamente ultrapassado e obsoleto.

As grandes corporações de comunicação e os tradicionais “caciques” da política não entenderam o poder das informações via rede sociais e sua capacidade de controlar aqueles que tentam controlá-la e foram atropeladas por elas.

Quando vimos essas empresas e os “markeiros” políticos tentando “reconquistar a confiança”, fica evidente o quanto eles são frágeis, e por isso estão condenados. A informação por si só é implacável e as redes sociais reverberaram à enésima potência esse potencial. Revelando uma imprensa atônita “para tranquilizar” os rumores de “fake news” vinculados a sua imagem. Lutando para conter os assinantes e anunciantes que fugiram, provocando uma espiral de morte.

Se eu usar a máfia para jurá-lo de morte, ele se foi. Mas, se eu encenar uma enxurrada de ataques de informação em sites e em revistas, posso estar apenas ajudando-o e me prejudicando.

Em sua mais apoteótica demonstração de antifragilidade, Bolsonaro é vítima de conspiração digna de uma máfia. Não contentes em tentar matar sua reputação tentaram o matar fisicamente. Veio, então, o famigerado atentado e como que uma fênix ele ressurge das cinzas conduzindo o povo de dentro de um hospital. 

O que é bastante desconcertante é que o conceito de professor Taleb nos mostra é que aqueles de quem mais nos beneficiamos não sejam os que tentaram nos ajudar (digamos, com um “conselho”), mas, sim, aqueles que tentaram ativamente — apesar de falharem — nos prejudicar.



Daniel Emídio

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